top of page

2º Módulo: Memória + Fotografia

É impossível registrarmos nossa história sem acessar a memória. Nesse módulo, os participantes foram convidados a trazer objetos que os remetam à sua história (como fotografias, artigos de vestuário, cartas, certidões e objetos em geral). Além disso, também foram apresentadas perguntas para eles responderem sobre o passado, de forma a acessar a memória (detalhes de nascimento, momentos da infância, eventos marcantes na vida). Veja abaixo as histórias que resultaram de um dos exercícios propostos no módulo:

Regina

 

A Regina contou a história da vez em que ela trabalhou como voluntária na ONG Amarati, de Jundiaí (SP). Para isso, ela trouxe um imã de geladeira produzido durante as atividades na entidade. A Amarati atende cerca de 250 portadores de lesões físicas e neurológicas. Foi emocionada que Regina relatou o quanto aprendeu com as pessoas que são atendidas, e ainda revelou que já perdeu um filho vítima da doença. A experiência como voluntária a fez aprender o quanto o ato de ensinar alguém a fazer algo é, na verdade, um aprendizado.

 

Leia abaixo a história dessa memória contada pela Joelma durante a oficina:

 

“A Regina trouxe um imã de geladeira com uma caneta e um bloquinho de anotação. E aí a história dela é a seguinte. Ela teve um filho vítima de doença cerebral (depois a Regina explicou que foram dois), e existe aqui uma ONG, a instituição Amarati, que cuida dessas crianças com doenças cerebrais. Ela sempre pensou em participar como voluntária, mas nunca foi efetivamente atrás. E um dia ela se deu conta que ela estava lá, na Amarati, e se colocou à disposição para começar a trabalhar como voluntária. E ela teve essa proximidade com as crianças que têm essa síndrome que ela disse que levou o filho a falecer. Foi surpreendente a experiencia. Ela disse que aprendeu muito, que teve todo um processo interno de resignificação. E que esses objetos eram feitos com antecedência e que as crianças só colocavam a caneta no bolsinho do imã. E imagina você ter uma dificuldade motora, ou de entendimento, e você fazer esse simples movimento de colocar a caneta em um bolsinho? Essa era a contribuição das crianças, e eu fiquei imaginando isso e pensei, deve ser fantástico... O simples fato de colocar uma caneta num bolsinho. Deve ter sido uma experiencia e tanto.”

 

Joelma

 

A Joelma trouxe para a aula o ursinho de plástico que tinha quando criança. O objeto é de material duro e pouco confortável para brincar, e ela lembra que ele mais ficava de enfeite do que era usado para brincadeiras. O ursinho fez Joelma se lembrar de como tinha uma infância ativa, já que ficava mais brincando na rua e fazendo atividades com os amigos do que em casa, com brinquedos. Disse que teve uma infância simples e ter brinquedos caros nunca fez falta.

 

Leia abaixo a história desse memória contada pela Mary:

 

“A Joelma contou que o ursinho rosa é um brinquedo que acompanhou toda a vida dela. Embora seja um objeto que está em todas as fotos e lembra a infância dela, foi o brinquedo que ela menos brincou. Porque na época da infância ela gostava mais de brincar na rua com as crianças, na oficina do pai dela, de subir nas árvores, no telhado. As brincadeiras dela de preferência eram essas. O ursinho na verdade servia mesmo era de enfeite. Mesmo assim, a Joelma disse que acabou levando o ursinho pra vida toda, porque todas as fotos que ela tem da infância dela, lá esta o ursinho em algum canto.”

 

 

 

Mary

 

Um caderno com a história da família escrita por seu filho foi o objeto escolhido pela Mary para levar à aula de memória. Mary revelou que fica emocionada toda vez que lê a história contada no livro, mas que o próprio filho dela não dá a mesma atenção ao objeto. Ela disse que tem muito carinho à apostila pelo valor simbólico do registro, que contém muito aprendizado.

 

Leia abaixo a história dessa memória contada pela Regina:

 

“Esse caderninho foi escrito pelo filho da Mary num trabalho escolar. Ele precisava contar a história da família dele. Eu achei muito interessante porque mesmo com pouca idade ele pesquisou, foi atrás de um monte de detalhes, fotos antigas, entrevistou parentes, fez todo o manuscrito, então ficou muito bonitinho. Schei legal a sequencia cronológica e todo o trabalho de escrita que ele deu a esse livrinho. Mas o que mais me chamou a atenção foi a história que a Mary contou. Ela disse que isso tinha um valor sentimental muito grande para ela. Quando ela leu, ela voltou naquele passado e o livrinho foi muito mais importante para ela que estava lendo do que para ele que estava fazendo aquilo, puramente técnico ou para ganhar uma nota. O que chamou a atenção foi que a Mary andava com esse livrinho para cima e para baixo, porque era como um troféu que ela demonstrava, já que o filho ganhou prêmios com ele. E aí o carro dela foi roubado e o livrinho estava dentro do carro. Então vocês imaginam: a Mary estava pouco se lixando para o carro, a preocupação maior dela era o livrinho. E aí ela ficou em desespero e toda hora ela ficava pensando naquilo. E como amor de mãe tem poder, ela pediu muito por isso. Para a surpresa geral, o carro da Mary foi achado e o livrinho estava intacto dentro do carro. A Mary tem para ela que Deus realmente colocou sua mão ali, porque o livrinho tinha vestígios de que uma mão bem suja tinha manuseado aquele texto. Então, no inconsciente dela, ela tem que a pessoa leu, viu que se tratavam de pessoas humildes, batalhadoras, que tinham um propósito, e abandonou o carro. Essa história não convenceu o marido dela, mas para ela ficou gravado esse sentimento. Então eu achei muito bacana, porque essas coisas de sentimento movem montanhas mesmo.” 

 

 

 

bottom of page